(Capítulo 07 Episódio 2) – O SALMO 25
Foi nesse espaço de tempo que tomei conhecimento do artista, de suas obras e de suas travessuras. Seu habito estranho e perigoso de andar com serpentes venenosas até dentro do chapéu.
Chegou a contar que certa vez foi picado por uma delas e que seu tratamento foi a base de alho, sem nunca pensar em tomar a vacina. Considerava o alho um poderoso antídoto, para amenizar as consequências quase sempre fatais da peçonha. Se isso era verdade, não tenho como afirmar, mas ele insistiu muito nos poderes curativos do alho.
De assunto para assunto, fomos avançando pela noite e sem percebermos estávamos em plena madrugada. Essa degustação entrou mesmo, pela madrugada a dentro. A professora terminou por não mais insistir na execução da obra. Viajou no dia seguinte para a capital da Paraíba e na sua volta, passados alguns meses, encontrou-se com Agamenon na rua.
Pretendia ouvir dele, qual seria a desculpa para não terminar de pintar o texto que tanto pretendia que fosse representado na tela.
Acredito que tenha tido ainda a esperança, que o Mestre tenha enfim, terminado de compor o texto. Qual nada. Para seu constrangimento, ouviu de Mestre Agá, uma das mais criativas e inusitadas desculpas. Fato esse que tenho contado para inúmeras pessoas, pois entendi o quanto a irreverencia do artista era inovadora e surpreendente.
– Professora me perdoe! A tela ainda está em meu estúdio, no mesmo jeito daquela noite. Porém, essa bíblia pequena, de folhas tão delicadas, desfolhei uma a uma. E posso lhe afirmar que no decorrer de todo esse tempo, posso hoje em dia, não ter Deus no coração, mas acredite, devo ter ele no meu pulmão. Fumei todas!
Agamenon é um pouco disso e muito daquilo. É aquilo tudo, que poucas pessoas teriam a coragem de ser. Uma personalidade impar que retrata em suas inúmeras obras o registro de sua alma revolucionaria e contestadora.
Acredito que consegue viver minuto a minuto sem se preocupar com sua aparência e muito menos com a opinião pública. Está livre dos grilhões da mesmice, dos conceitos e dos modismos que permeiam pela sociedade, impondo seus conceitos herméticos e opressores.
Um artista, como poucos artistas conseguem ser.
(continua no próximo episódio)
Guto de Paula
Redator da Central São Francisco de Comunicação